Guerra de palavras em tempos de eleição
Matar ou morrer. Eis a ordem nas Redes Sociais. Quem tem mais força, mais argumento, mais informações- sejam elas verdadeiras ou não, “vence” o duelo. A Comunicação Violenta, no sentido mais real, se instalou no Brasil nesta véspera de eleição. A guerra de palavras se estende a todo e qualquer espaço público e privado, sem limites, sem respeito, sem bom senso. Estamos divididos entre o “bem” e o “mal”, entre esquerda e direita, entre honestos e corruptos, entre “cultos” e “ignorantes”, entre os que defendem as minorias e, portanto, são considerados progressistas, e os que defendem os valores da família, considerados conservadores. Poucos percebem que, afinal de contas queremos o mesmo Brasil. Queremos trabalho, queremos justiça, queremos comer, queremos andar livremente nas ruas, ter boas escolas para nossos filhos, ser atendidos com dignidade nos hospitais e postos de saúde. Queremos viver bem aqui sem imaginar como seria a vida lá fora.
Seria insano dizer que temos excelentes candidatos à presidência e, sendo assim, para muitos eleitores a escolha será fundamentada no “menos pior”. Os candidatos projetam planos diferentes, mas a maioria dos eleitores quer e não quer as mesmas coisas. A maioria não quer ditadura- nem de esquerda, nem de direita. Não quer excesso de controle, nem sobre produção econômica, nem sobre cultura ou ideias. Então, por que tanta guerra de palavras? Toda arrogância de ideias é condenável. Toda discriminação também- seja de direita ou de esquerda. E não se iluda quem pensa que a intolerância e a perseguição às diferenças é coisa de conservador porque eu sei o que tive que enfrentar no ambiente jornalístico- cheio de progressistas- pelo fato de ser cristã praticante.
Se algum eleitor disser que não está decepcionado, ou está iludido ou mentindo. Tenho amigos marxistas, evangélicos, ateus, de diversas correntes políticas e ideológicas. Seja qual for, não dá para relativizar o estrago que os partidos e os políticos fizeram ao país. Só que essa decepção foi maior com o PT porque passamos anos acreditando que teriam postura diferente quando chegassem ao poder. Não foram. Se associaram a todos os representantes da velha política e avançaram ainda mais na usurpação do dinheiro público para fins políticos e enriquecimento de seus líderes. Sim, foi uma enorme decepção.
Quando vejo as discussões acaloradas dos eleitores defendendo suas posições políticas parece que há uma cegueira. São dois lados se engalfinhando, pessoas cortando relacionamentos, brigas em famílias, discussões em mesa de bar, na escola, no trânsito. Um desespero. Brasileiro que é brasileiro sabe que estamos afundados na corrupção, praticada por representantes de quase todos os partidos políticos. Qual não teria telhado de vidro? Quem nunca se enganou com seu voto? Portanto, não há situação ideal e essa consciência deveria servir, pelo menos, para diminuir o calor das discussões.
Chega de discursos que desconsideram o ponto de vista do outro como legítimo, mesmo que diferente. Chega da tirania da verdade absoluta- a minha, a sua verdade. Isso sim é irreal. Aquilo que você considera óbvio, não é para o outro. O que você considera intolerável, o outro relativiza. Assim é a vida, assim são as relações. Passadas as eleições, quem quer que saia vitorioso vai precisar de uma nação unida para vencer a crise e não uma população dividida, irada, se matando pelas palavras.
Eu escolhi meus candidatos sem a pretensão de que sejam perfeitos. Não serão. Eles vão errar, vão escolher para sua equipe pessoas que não concordo, vão apoiar medidas que reprovo, vão defender reformas dolorosas e necessárias. Mas essa é a mágica da democracia -governar para todos. Se não estancarmos esse padrão violento de comunicação, após o segundo turno das eleições seremos os maiores derrotados. Teremos sacrificado a tolerância e o sonho de um Brasil onde vale a pena viver.