Media Training e o sufoco do eleitor
Ano eleitoral costuma ser um martírio! De um lado porque temos a responsabilidade de escolher um agente público, de outro porque sabemos que não é uma tarefa fácil. A cada eleição temos que lidar com a infindável verborragia dos candidatos. São frases sem sentidos, promessas sem consistência, ataques sem provas, cinismo sem limites. Discurso eleitoral é um dos maiores exemplos de blá-blá-blá, quando se diz tudo a todos, sem dizer nada a ninguém. Um Treinamento de Comunicação- Media Training bem feito evitaria, pelo menos em parte, o sacrifício ao qual o eleitor é submetido diariamente. Para início de conversa, vamos deixar claro o que o dicionário diz sobre o termo verborragia: utilização de frases desprovidas de sentido e/ou sem importância para expressar poucas ideias. Agora vamos aos exemplos dos principais candidatos, pela ordem das pesquisas:
Jair Bolsonaro há muito ostenta o discurso de político conservador que defende os valores religiosos, preservação da família, a “ordem e o progresso”. Ao mesmo tempo, é o candidato mais flagrado citando frases infelizes. O candidato deveria priorizar o Media Training porque parece não medir o peso das palavras. Costuma ser desastroso quando fala da ação militar, gerando um clima de insegurança aos que se apavoram com a ameaça de volta da ditadura. O candidato também peca quando fala de homossexuais, mulheres, responsabilização criminal de menores, os direitos das minorias em geral. A que se considerar que parte do eleitor aprecia exatamente esse discurso “sem meias palavras”, mas num momento eleitoral isso pode sair caro. Nem sempre o importante é o que se diz, mas como se diz. E mais ainda: vale o que o ouvinte entendeu. Por mais que o candidato tente explicar algumas frases “mal interpretadas”, o estrago está feito.
Fernando Hadad tenta ser mais político com as palavras, mas não passa no teste da consistência, quando insiste em exaltar o governo Lula, ignorando completamente o governo Dilma que terminou em impeachment. Me faz lembrar a frase do ex-ministro da Fazenda Rubens Ricúpero em transmissão via satélite quando ele afirmou: “Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”. Acontece que não estamos mais no ano de 1994. Na era das mídias digitais, nada se esconde, nada se diz sem que isso possa ser revisado e avaliado.
No caso de Ciro Gomes as palavras saltam como fogo em qualquer momento de pressão, O candidato definitivamente é um grande orador, gesticula bem, mas abusa do pavio curto. Entre as lições do Media Training estão justamente o domínio próprio, para não perder a calma em momentos de exposição pública, e a paciência com o repórter. Ciro Gomes faltou a essa aula. Diz o que quer, xinga, esbraveja, quase baba. Usa a comunicação para demonstrar um desequilíbrio que assusta o eleitor mais atento, mesmo que este concorde com seu plano de governo.
Por falar em Plano de Governo, os candidatos precisariam passar por muitos treinamentos de Comunicação para explicar de forma responsável o que pretendem fazer pelo país. O que prevalece é o tom messiânico, que abraça todo e qualquer problema do cidadão. Os Planos de Governo oferecem menos bandidos nas ruas, impostos justos, previdência garantida, emprego de sobra, educação pública no padrão Finlândia, muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender. É o céu!
É preciso trazer os candidatos de volta à realidade e esse esforço pode começar pela comunicação. O primeiro passo é reconhecer que as palavras têm força e que a comunicação não verbal mostra muito do que o candidato tenta esconder. A maneira como um candidato fala, diz quem ele é. Basta querer ouvir além das palavras.