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10/04/2020

Media Training já para Bonner e Renata

“Muito boa essa série de entrevistas do Jornal Nacional. A gente fica conhecendo melhor as opiniões do Bonner e da Renata sobre os problemas do país. O único problema é que tem sempre um candidato a presidente interrompendo os dois”.

Este comentário de uma telespectadora “viralizou” nas redes sociais e diz muito sobre o papel de um porta-voz e de um entrevistador no momento de interação na imprensa. Os candidatos certamente passam por processos intensos de Media Training ou Mídia Training, mas os apresentadores, por mais experientes que sejam, deveriam sempre respeitar as boas práticas de uma entrevista imparcial, esclarecedora para o cidadão, mesmo que para isso tenham que sacrificar a audiência.

Há muitas justificativas para esse comportamento. Um dos principais é o descrédito generalizado com a classe política. Há também um esforço necessário para que eles não aproveitem o tempo precioso de maior audiência de um telejornal brasileiro para tergiversar, negar responsabilidades, mentir e enganar o eleitor. Os jornalistas se preparam muito para uma entrevista como esta. Vasculham passado e estudam a fundo os planos de governo e o perfil de cada candidato. E se não ficarem muito atentos, o político dispara a falar o que quer, não responde o que foi questionado, desliza mais que sabão e ainda aparece como vítima ou salvador. Me lembro bem das entrevistas com Paulo Maluf. Era um show de simpatia com os repórteres.

Por outro lado, durante as entrevistas parece que voltamos ao período da inquisição. Fico imaginando como seria estar na posição do convidado, com dois vorazes inquisidores, cheios de certezas e armas afiadas na língua. Será que gastar o tempo do candidato com imensas perguntas analíticas, muitas vezes batendo no mesmo ponto que não é fundamental para o eleitor, é de fato produtivo? Qual é o objetivo final de uma entrevista para a imprensa? Conhecer propostas dos candidatos e saber de onde vão tirar recursos para cumprir os milagres que prometem. Isso não vem acontecendo. Termina a entrevista e ficamos com a sensação de que acabamos de assistir a mais uma luta de MMA. De um lado os candidatos que passaram por Media Training e do outro os apresentadores com anos de familiaridade com o público. Mas o jogo é desigual já que os apresentadores estão na condição de mediadores do eleitor e têm a chancela de um poderoso veículo de comunicação, com o qual o futuro presidente precisará se relacionar.

Por que um Mídia Training

Faço essa reflexão não para criticar meus colegas, mas para lembrar que eleição não é um duelo entre eleitor e candidatos. Quando acessamos a imprensa para conhecer melhor um candidato estamos à procura de informação. Se o político é honesto ou não, cabe sim a imprensa deixar isso claro. Poderia, por exemplo, reforçar estas informações antes de começar a contar o tempo da entrevista. Esclarecer se o candidato tem posições polêmicas, se já esteve envolvido em algum escândalo. Depois que o reloginho começa a rodar, o ideal é conhecer propostas, por mais que sejam duvidosas. Não é necessário o jornalista assumir o papel de algoz. Até porque, os jornalistas bem sucedidos, não usam transporte público, não dependem do SUS, não comem “quentinha”. Por mais que queiram ser a voz do povo, talvez não consigam dimensionar o nível de privações que a classe política impôs aos brasileiros. E aí, a performance da entrevista parece mera representação.

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